Entrevista exclusiva de Duarte Levy. Imagem de Joana Morais. 2008/2009 ©Todos os direitos reservados.
PS: Formalmente temos duas ou três questões… a primeira das quais é inequívoca. Duas meninas desapareceram, não voltaram a aparecer, não se encontrou qualquer tipo de corpo.
Segunda questão: em ambos os casos é reclamado, digamos assim, desde o início a hipótese de rapto. Quer no caso Leonor Cipriano, quer no caso Madeleine McCann. Bom, e esse rapto é reclamado sempre por parte dos pais, portanto a tese é desde o início colocada pelos pais. Há contudo uma diferença abismal, é que em relação ao caso Leonor Cipriano, o caso da menina Joana, a passagem da inocência para a suspeição é rápida. Numa ou duas semanas. Rapidamente a Leonor Cipriano deixou de ser uma mãe inocente de quem toda a gente tinha tido pena nas duas semanas anteriores, designadamente nos programas de televisão, onde a mãe choraria, apresentaria o retrato da menina e reclamaria de facto essa hipóteses da menina ter sido roubada por um pedófilo ou qualquer coisa assim do género, mas que a seguir começa logo a ser suspeita, investigada e depois presa enquanto no caso McCann, essa viragem digamos assim, da assertidade para a culpabilidade é socialmente feita muito mais tarde. E isto existe do ponto de vista sociológico, em termos criminológicos uma abordagem de nível social porque a L. C. é uma mulher pobre sem protecção, digamos, aparentemente política, ninguém, porque é uma simples desconhecida algarvia, que já tinha de algum modo, já trazia no seu passado uma carga ligada de certo modo, com a justiça, porque estava referenciada pela comissão de menores como sendo uma má mãe etc. Etc. E rapidamente o sistema se inverteu.
Relativamente aos McCann não, porque são de uma classe média alta, estrangeiros com protecção, que tudo indica, ao mais alto nível político, e essa passagem demorou mais tempo. Mas isso também quer dizer uma coisa… é que o tempo é que faz com que a verdade não se possa esconder eternamente, embora atrasado, as coisas começam também a ganhar outra forma. Mas aqui, a questão é de nível social, isto obriga-nos também a repensar todos os critérios de justiça no sentido de que podemos pensar que há dois tipos de justiça, consoante o tipo social onde a pessoa se integra.
DL: Em relação a opinião pública nos dois casos, até que ponto é que o comportamento da opinião pública, nomeadamente em Portugal, foi diferente num caso e noutro, e hoje em dia como é que se pode explicar, por exemplo, que não há avistamentos no caso Joana, mas há avistamentos até bastante emocionais no caso Madeleine McCann.
PS: Essa questão é uma questão muito interessante. Essa questão leva-nos a pensar que a opinião pública é mais sensível, foi mais sensível no caso também, no facto de se tratar de cidadãos estrangeiros que estão fora do país, e nós portugueses, esta questão que nós temos, esta hospitalidade de que somos um povo caloroso, que gosta de receber bem, com muita habilidade social, isto é, gostamos muito de estar a ajudar e de fazer aquilo que deve ser feito. Isso foi nos primeiros tempos uma das questões que ajudou, para além de outras a mediatizar este caso. Porque se teve interesse por outros assuntos, e são causas mais escondidas, que não serão fáceis de explicar, que o tempo explicará, que a investigação explicará. Uma causa fundamental é que o povo aderiu em massa. O povo fez da Madeleine uma espécie de filha adoptiva de Portugal que é uma coisa interessante. E nessa perspectiva foi também ajudando a criar, não é, quase uma espécie de patrulhas de buscas populares. Uma espécie de milícias de buscas populares que em certa medida também poderão ter ajudado por um lado, a confundir a polícia, e por outro lado a esconder outras pistas que podiam ser importantes nos primeiros tempos. Portanto, esta é uma das questões. Relativamente aos avistamentos, eu faço sempre a comparação com o caso Roswell no E.U.A.
Os E.U.A, 40 anos depois de Roswell, continuavam com avistamentos quase diários de OVNIS e é quando são feitos todos os filmes, as grandes sagas que têm a ver com aliens, que tem a ver com Steven Spielberg e com as guerras dos mundos, portanto é qualquer coisa que… o Platão dizia uma coisa muito simples em relação aos mitos. Os mitos são uma coisa que atrai uma aldrabice, narrativa fabulosa, uma mentira, mas é espantoso como é que eles explicam tão bem a realidade quando a razão nos escapa. E aqui é a mesma coisa. Enquanto se vai mantendo o avistamento, esse mito, o mito de Maddie portanto, se isso fosse na idade média, a Maddie já teria sido beatificada e santificada. Hoje não o é porque de facto, felizmente não é esse o problema em que nós vivemos. Mas o mito, o aparecimento, ou por outra, os avistamentos da Maddie são iguais aos avistamentos de OVNIS, mantemos, sabemos que ela já não está viva, mas mantemos essa hipótese no nosso imaginário, nós sabemos que não existem, temos grandes evidências que não existe vida extraterrestre, pelo menos no fundo do tipo como o Orson Wells quis mostrar na guerra, quando simula a invasão com marcianos verdes. Poderá haver outra eventualmente, mas temos sempre uma ligeira desconfiança do se calhar existe. Agora o que é curioso é que se permanece e isto é um viés de pensamento humano, que se permanece de facto a preservar o erro, que é, os avistamentos que foram mais negativos, mais consecutivos, que foram os de Marrocos, foram aqueles que durante mais tempo, foram os mais credíveis para alguma comunicação social. Insistia-se nesses avistamentos quando tínhamos o pressuposto matemático contrário. Se tive três avistamentos negativos, eu tenho logo de pensar que é pessoal, são pessoas, a população é mais susceptível, é mais sugestionável e portanto vai haver mais coisas onde elas não existem, mas isso curiosamente serviu, vamos pôr isto entre aspas, para “entreter” alguma imprensa e manter a tese de rapto no ar sem qualquer critério. Portanto se há avistamentos é porque sim senhora as pessoas continuam a acreditar que eventualmente há um rapto.
DL: Nos casos de rapto provados, onde por vezes não se encontram o corpo, fala-se sempre na questão de fazer o luto. A necessidade de que os pais têm de encontrarem o corpo para fazerem o luto. No caso de Madeleine McCann, até que ponto a opinião pública precisa de fazer o luto deste caso?
PS: Necessita, e essa é uma questão fundamental até para, digamos, encerrar o caso. Enquanto não se souber de facto o que se passou, há sempre uma réstia de desconfiança. O luto serve para nós repararmos uma perda. Quer-se dizer, se nós quisermos uma definição rápida do luto, de como é que consigo reparar uma perda, como é que consigo pelo menos reparar os efeitos muitas vezes devastadores, de ponto de vista emocional que essa perda causou. E regra geral, tem de ter marcadores. Não é ao acaso que nós temos cemitérios. Nós pura e simplesmente podíamos morrer, deixássemos que os corpos se decompusessem naturalmente, como a natureza o faria e mais nada. Mas não. Temos símbolos. Símbolos que nos vão ajudando a certificar-nos que está ali, que aconteceu, que aquele fim acabou, e essa simbologia permite-nos uma passagem daquilo que foi real, que existiu para uma recordação que é outro tipo de realidade que é evidenciada. E enquanto isso não acontece, quando não há uma prova concreta, continua a ambivalência e dai também os avistamentos, porque enquanto não souberam que morreu, é possível estar viva. Portanto, e é esta, digo eu, que há um certo interesse nalguma imprensa e nalgum tipo de movimento de informação ao redor deste caso que mantém em circunstâncias e alturas muito estratégicas, os avistamentos como forma de informação para evitar esse luto. Ou seja, se, vamos supor outro caso, o caso de Castelo de Paiva onde caiu há 4/5 anos, como todos nós sabemos, uma camioneta com uma série de pessoas, de excursão, caiu, onde morreram uma série de pessoas em que muitos daqueles corpos não apareceram. Nós também percebemos que as pessoas, entre as quais os familiares dos corpos que não apareceram tiveram maiores dificuldades em encerrar esse capítulo dessa vida. Do ponto de vista sócio-cultural nós vamos ter grandes dificuldades em encerrar de facto, o capítulo Maddie, enquanto não soubermos o que aconteceu de facto, enquanto não tivermos, digamos, a prova inequívoca. Enquanto se conseguir dar uma no cravo e na ferradura, este fenómeno nunca terá de facto um fim. Nunca terá, é como se nunca pudéssemos estar em paz, do ponto de vista social, nunca estar em paz com a Maddie enquanto não se souber efectivamente, preto no branco, a menina morreu, foi isto que aconteceu e acabou, ela andará sempre no limbo entre uma verdade e uma mentira. Será sempre uma espécie de fantasma que vai perseguir Portugal e Inglaterra e a relação entre os dois povos.
DL: Mas e em relação ao casal? Em relação a Kate e Gerry McCann, neste momento, pelas imagens que são conhecidas, pela atitude do casal pode-se concluir que eles já fizeram esse luto?
PS: Não, não concluiria isso, até concluiria outra coisa. Todos nós na vida, todos os seres humanos na vida têm pactos. Acontecem-nos coisas mais ou menos terríveis, de acordo com o sistema de valores e com a gravidade relativa junto dos acontecimentos e a forma como os vivenciamos e a forma como fazemos pactos. O que é comum aqui, em ambos, nestas circunstâncias de casais, por exemplo, que perderam um filho, duma forma ou doutra, e, e aqui não se discute do problema se tem ou não tem responsabilidade, do facto evidente que perdeu o seu filho é haver, basicamente isto é descrito na investigação psicológica, haver rupturas. Rupturas conjugais passado algum tempo de quando esse factos acontecem. E porquê? Justamente porque não podemos pensar que duas pessoas fazem o luto duma mesma situação em comum ao mesmo tempo. Isto é um ponto-chave para perceber o fenómeno. Há um que, por ventura, fará primeiro que o outro. E o que fará primeiro que o outro a dada altura deixará de estar tão fixado, por exemplo, na morte ou na perda da criança, para começar a fazer uma vida dita normal. Começar a sorrir outra vez, começar a sair, começar a ir jantar fora, começar a … bom, a viver a vida! Porque já resolveu, já reparou o efeito devastador emocional e o outro não e aqui começa o conflito. Que será do tipo “ como é que podes querer ir jantar fora quando o nosso filho só morreu há dois anos?” Portanto, isto para quem trabalha do ponto de vista clínico, com famílias percebe isto com clareza. Ora isto passou-se um ano e qualquer coisa, no caso Maddie McCann, e visivelmente nós não vemos qualquer tipo de crise entre o casal. Não quer dizer que tem de ser sempre assim, mas algum sinal devia ter havido. O único sinal que continuamos a ter é um sinal de natureza superficial, que tem a ver com a imagem, a assessoria de imagem que estão a ter naturalmente, que é algures marcadores sociais de grande união, aliás o exemplo da forma como o Gerry escreve no blog, agora pelo menos depois de ter recomeçado a escrever é de facto “a Kate e eu temos andado de facto muito ocupados a fazer isto…” quer se dizer, tentar dar uma ideia sempre de normalidade, de alguém que continua naquela busca, unidos com o mesmo objectivo. Mas tão unidos com o mesmo objectivo e ao mesmo tempo estão a dizer que não conseguiram, digamos, encontrar ainda, é uma coisa que lhes falta também para fazer o luto da situação. E nessas circunstâncias parece-me mais que não terá a ver com ter feito ou não ter feito o luto, mas sobretudo há um pacto entre eles dois sobre esta questão, pelo menos do ponto de vista emocional daquilo que se pode ver, porque eles são muito formais e digamos, apresentam, quer do ponto de vista do discurso publico e do comportamento social, marcadores que sugerem de facto este tipo de pacto, uma estratégia pré-delineada e assessorada para manter de facto esta busca que incessantemente, ainda do ponto de vista contraditório. Contraditório porquê? Porque se está interessado em manter o caso na ribalta, tem estado muito calado. Também se pode perceber a ideia de “bom temos estado calados porque temos estado a procurar pistas… etc. … Mas estas mudanças, digamos de opiniões, as pessoas precisam de saber, porque este caso, Madeleine McCann, deixou de ser um caso que interessa só ao casal, ele interessa a todo o mundo, porque não se pode mobilizar a ajuda e depois não a querer… assim de ânimo leve, portanto eu diria que não se trata de luto, não o terão feito ou terão feito, mas eu acho que não é esse o problema que se deve pôr, mas em que medida é que uma espécie de pacto, moldado por circunstâncias estratégicas do ponto de vista social, qual o tempo que ele irá durar. Até quando as pessoas vão poder aguentar a pressão que é também muito estranho como é que, eu não sei se eles têm apoio psiquiátrico, ou psicológico, ou psicoterapêutico ou não, e as pessoas têm níveis de resistência ao stress diferente, mas para quem não é, não eram pessoas que fossem figuras públicas, que estivessem habituadas ao stress de estar permanentemente com câmaras, têm estado, aparentemente do ponto de vista emocional, muitíssimo bem. Estranhamente bem, eu digo.
DL: Para voltarmos ao caso Madeleine McCann, os vídeos que foram criados há algum tempo pelo Paulo Sargento, qual é a ideia atrás desses vídeos? Eu falo por ex. no vídeo onde se vê o trajecto seguido por um carro que sairia do Ocean Club.
PS: Ok. Nesse vídeo onde se desenha não um mas três trajectos alternativos, o que se procurou demonstrar na altura é que um carro que saísse supostamente da janela do quarto das traseiras, digamos, da porta onde o casal McCann estava hospedado. O carro que saísse pela estrada que vai por trás do O.C até à igreja, ou pela estrada que passa pela frente do O.C até a igreja, demoraria cerca de 27/28 segundos a fazer o trajecto a uma velocidade de 50 km/h, portanto seria a velocidade máxima permitida dentro duma localidade. Portanto este foi o cálculo que foi feito. Num desses trajectos, o carro teria duas vantagens em fazer o trajecto. Imaginemos que há alguém que leva a menina, viva ou morta não interessa, de carro até o ponto a partir do qual se pode fazer divagações, nomeadamente par o mar ou seja para onde for.
Esse trajecto demora 26 segundos e se for pela parte virada, digamos, a parte direita do O.C onde não passa quase em frente à porta, esse trajecto é praticamente rectilíneo. É uma estrada que não tem quaisquer obstáculos, tem pouca gente até porque há um terreno baldio, não sei se ainda haverá, mas nessa altura havia um terreno baldio de cerca de dois hectares que estava cortado ao público para obras, portanto não havia muita gente a ver e portanto seria um trajecto que em menos de 30 segundos um carro chegaria lá junto á igreja, e imaginemos que há uma terceira pessoa, um cúmplice qualquer poderia levar a menina e a ter levado para outro sítio a partir desse ponto. E depois há outro trajecto que demora talvez mais um segundo, mas tem mais curvas, mais curto mas tem mais gente a passar… naturalmente, tem sobretudo uma questão. Ele passaria em frente à porta do OC. Vamos imaginar que era alguém conhecido do grupo dos 9 que estaria a fazer esse trajecto com a menina, aí daria muito nas vistas. Fosse qual fosse o trajecto, isto demonstra uma coisa, demonstra a possibilidade de em menos de 5 minutos, alguém ter saído da mesa do OC, ter pegado a menina com o carro, ir até a igreja, voltar e em 5 minutos estaria novamente a conviver com os colegas. Esta é uma demonstração clara.
DL: Hoje em dia já se sabe até, haver corte na informação. Sabe-se mais ou menos o espaço de tempo que esteve à disposição do casal, de alguns dos amigos para se ausentar do jantar do OC e um primeiro dado que aparece fala-se num espaço de tempo de 12 minutos. 12 minutos seriam então um tempo para fazer evacuar um corpo de um apartamento?
PS: Metade desse tempo seria mais que suficiente, confortavelmente suficiente.
DL: Em relação ao caso Madeleine McCann, esses retratos robots que apareceram sucessivamente, até que ponto se pode dar credibilidade quer às testemunhas que estão na origem desses retratos robots, quer os retratos robots em si porque são muito diferentes entre eles.
PS: Sim são diferentes. Eu acho que esses retratos robots são uma completa falácia e há erros de todos os níveis. O primeiro dos quais tema a ver com a foto. O retrato robot é uma produção digamos executada, regra geral por um desenhador ou técnico da polícia tendo em vista um testemunho. Portanto, a primeira questão que nós devemos colocar é se o testemunho é credível. Em duas situações o testemunho foi uma senhora chamada Jane Tanner que pertencia ao grupo do tapas não é verdade… e essa senhora como se pôde verificar nas produções discutíveis que foi tendo com a polícia, foi tendo alterações. Isto é mais que motivo suficiente para ficarmos de pé atrás quando vamos encontrar o retrato robot, portanto o sketch do desenhador da polícia, que é o resultado ou tentativa de transformar o resultado de uma produção digamos discutíveis de uma pessoa que está constantemente a alterar o seu testemunho. Para darmos exemplo disso no primeiro esquisso temos qualquer coisa como ter visto um homem que transportava qualquer coisa ao colo, tipo, parecia uma criança embrulhada num cobertor, e no segundo era a Maddie que ia ao colo duma forma estranha porque ninguém No retrato robot já aparece o desenho duma menina ao colo, de forma até muito estranha porque ninguém transporta assim na espécie humana, assim é só em circunstâncias muitos especiais a não ser que reconhecidamente tivesse morta mas não estou a ver alguém com uma criança morta a passar numa rua, a mostrá-la ao público. Portanto isso é falacioso. Espanta-me a mim como é que uma desenhadora experiente, por exemplo duma polícia científica, pode cair num erro primário destes e depois as relações – proporções quer dizer, também uma criança de 3 anos, na proporção digamos que tem para com o adulto que a transporta é mal reproduzida na medida que aquelas pernas são pura e simplesmente compridas demais na relação dos canos (antropométricos) que, repito, uma desenhadora forense tem a obrigação de os conhecer e de reproduzir desta forma. Por isso aquilo é completamente falacioso…
Mas ainda há aqui uma questão muito interessante, é que esse retrato é já produzido, já com um pijama que é um pijama que só apareceu a público, depois da Jane Tanner ter produzido o primeiro relato, e no segundo ela alterou. Portanto um primeiro retrato robot que diz respeito ao testemunho, depois o que diz respeito às circunstâncias técnicas com que um desenhador forense deve ter na sua formação e claramente não pode dar erros primários desses. E depois um retrato robot pretende quase sempre identificar aquilo que os seres humanos são mais identificáveis e a gente sabe que somos mais identificáveis, os bebés olham para uma parte mais especial do nosso corpo que é para face, triangulo, olhos nariz, boca e qualquer pessoa que tenha visto qualquer outra pessoa instintivamente para onde olha é para a cara.
E se alguém viu alguém e que desconfia que alguém levava essa menina é de espantar como repara em sapatos clássicos, calças beges, casaco castanho, camisa bege, ingredientes de cor tão difíceis de observar à noite e tão atentos aos pormenores, e os mantém ao longo dum certo tempo e não tenha nenhum traço da cara. Bom, isto não é um retrato robot.
Por último e mais relevante e que, do meu ponto de vista, traduz efectivamente a vontade que há em manter a tese do rapto a todo o custo passando por erros tão grosseiros como estes que acabo de dizer é de ainda dizer; bom, mas atenção que este é o retrato efectuado por uma desenhadora forense com formação de FBI. Ora o que é que temos aqui? A imposição clara dum argumento de autoridade em prol da autoridade do argumento. Se o argumento é bom não interessa ser feito por o FBI ou feito por qualquer outra pessoa e mais ainda, nem todas as instituições conhecidas e competentes têm 100% de gente competente, portanto isto é um erro absolutamente extraordinário e foi nesta base que se tentou também mostrar este vídeo para pura e simplesmente dizer que este retrato robot serão falácias e mais ainda o terceiro que aparece, o sketch com um sujeito de barbas e muito parecido como já se disse muitas vezes como piada, muito parecido ao ex. Beatles o tímido Georges Harrisson, é produzido, não pela mesma testemunha, a Jane Tanner, como se fax crer, mas por uma cidadã inglesa, britânica, que não estava sequer na Praia da Luz na altura em que a pequena desapareceu mas que cerca de um mês depois e que viu um sujeito com aquelas características, e é baseado naquelas características, e depois de alguns discursos que tinham dito que era alguém com um ar mediterrânico que é reproduzido este terceiro retrato robot.
Quer dizer... era muita coincidência que o sujeito ainda se mantivesse lá, depois de ter raptado um mês quase depois e que essa senhora tivesse visto esse mesmo sujeito. Agora isto deu particular jeito a uma agência de detectives privada que está a trabalhar para os McCann para encontrar em Altura no Algarve, junto a Vila Real de São António, um sujeito também com barba, com cabelo bem comprido, por acaso também tinha um blusão castanho e que estava ali em Altura que é a meio caminho, por exemplo, entre a Praia da Luz e Huelva onde tinha também, na mesma altura, passando aqui o pleonasmo, sido raptado uma menina que depois se veio a descobrir que, de facto, tinha sido raptada e assassinada por um pedófilo. Só que nesse momento não se sabia disso e provavelmente deu muito jeito arranjar um sujeito que ainda por cima demonstra-se claramente pela comparação facial da reconstituição antropométrica digamos de proporções faciais que nada tem a ver com o retrato robot, que ainda por cima é um cidadão que sofre de perturbação psico-sociais. Deu muito jeito para manter durante mais algum tempo um retrato robot que é ele próprio um retrato robot falacioso e construído, e eu arriscaria a dizer, construído artificialmente porque pura e simplesmente a parte da arcada sobre ciliar e a parte facial mais baixa, não coincidem em termos de proporções e estamos a criar uma espécie de ser humano ambíguo porque a parte de cima é tipicamente masculina, acentuando os traços sobre ciliar um pouco ao estilo… tinha bossas cranianas um pouco mais distintas e tinha um ar mau, nós quando queremos por exemplo, mesmo no cinema, quando queremos pôr um actor a fazer de criminoso não vamos pôr um actor com traços finos, pomos um tipo mais grosseiro, esta arcada sobre cilhar tipo Neandertal é assustadora não é? Esta parte de cima está assim mas esta parte de baixo é tão parecida com o cidadão por exemplo mais anglo-saxónico enquanto a parte de cima é parecida com um magrebino. Ou seja, temos aqui uma espécie de figura híbrida que agora resta saber se é novamente uma incompetência da desenhadora ou se é algo mais perigosa que isso, uma fabricação para desenhar uma espécie de estereótipo criminoso ancestral.
DL: Uma última pergunta, talvez em relação à campanha que foi criada a volta do caso. De um ponto de vista psicológico até que ponto é que se pode considerar que a utilização do Cuddle Cat, aqueles passeios junto ao mar, aquelas idas à igreja, até que ponto se pode explicar isso em termos de manipulação da opinião pública?
PS: Eu acho que, quer dizer, as próprias acções em si são uma evidência de manipulação da opinião pública porque o natural no desaparecimento duma filha, numa perda duma filha quer-se que nós temos de distinguir aqui o que é o comportamento mais frequente nos seres humanos, não quer dizer que por ser mais frequente não haja pessoas que possam adoptar outro tipo de postura ou de comportamentos… sem que isso queira dizer, queira torna-los suspeitos ou outra coisa qualquer e culpá-los. Mas o mais natural é que qualquer pessoa que lhe tenha desaparecido uma criança, um ente querido, seja o que for, prefira ter à sua volta polícias e pessoas que tecnicamente as ajudem a encontrar e não procurarem como, por exemplo, a primeira noite foi procurado um padre e logo a seguir um assessor de imagem. Estas são questões de base, fundamentais. Esta preocupação leva a pensar numa coisa fundamental, é que, para além do eventual desaparecimento, que a gente não sabe o que é que foi, havia outras preocupações acessórias e essas ganharam preponderância, e tanto ganharam preponderância que os passeios eram marcados, só há um tipo de imprensa informada, o cuddle cat foi usado em determinadas circunstâncias duma forma mais demonstrativa para as câmaras e eu hoje, o casal McCann que me desculpe, eu nunca mais vi o cuddle cat e eles têm continuado a ser filmados. Serviu de facto um intuito do ponto de vista da manipulação da imagem. Tendo isto, tanto positivo como negativo, não estou aqui a criar um juízo de valor que as pessoas podem querer manipular a imagem com digamos uma intenção muito boa que é de facto manter vivo o interesse pela busca, digamos, da sua filha e naturalmente seria até legítimo pensar que essa manipulação fosse feita para manter o interesse agora não se compreende é porque se muda de atitude e porque algumas coisas servem e doutras vezes não servem. Portanto aí não tenho dúvidas a informar que havia manipulação e que como estavam assessorados para o fazer, isso veio a demonstrar-se.
DL: Uma questão que foge um bocadinho do capítulo da psicologia mas que se enquadra na experiência que o Paulo Sargento tem. Até que ponto, partindo do princípio que este caso será reaberto e que esse caso será um dia julgado em tribunal, até que ponto será possível, em Portugal, se colocar estes pais ou quem quer que seja de outro face a um juiz ou um jurado e pensar-se que um juiz ou um jurado terá independência suficiente face a mediatização que houve para julgar este caso?
PS: Bom, a primeira coisa, eu tenho a sensação em primeiro lugar que isso nunca vai acontecer, mas é uma sensação é, digamos, é uma opinião, não a nada que eu possa dizer, há um conjunto de partidores que eu possa afirmar que bom da minha perspectiva e um desses partidores é de facto a excessiva mediatização faz com que regra geral os verdadeiros culpados nunca aparecem. Eu vou lembrar só um caso célebre. Um caso, curiosamente britânico Jack the Reaper. O Jack Estripador foi a primeira grande mediatização histórica no crime, foi a primeira vez que se vendeu jornais a sério por causa dum crime, isso levou a uma confusão tal que nunca se veio a descobrir a verdadeira identidade desse tal Jack, que tem um nome que pensa-se que foi criado pela própria imprensa, é um nome que nunca foi assinado em lado nenhum. E portanto esse foi o primeiro grande exemplo, curiosamente inglês em que a mediatização funcionou para confundir, funciona regra geral a favor de quem praticou o crime e não o contrário. Portanto há aqui um paradoxo que o excessivo informar tem problemas em relação a isso, porque é preciso não esquecer informa todos, não informa só alguns, informa também o criminoso. E o casal McCann estava avisado disso desde o inicio.
Bom, meus amigos vocês quanto mais publicidade fizerem, mostrar o problema da vista da menina e não sei quê, estão a colocar mais em perigo, se houver rapto da menina, porque o raptor ao ver esta mediatização outra coisa não terá a fazer senão eliminar de facto a menina. E esta questão era, foi avisado o casal McCann … Bem mas isso leva a outra coisa que tem a ver com a pergunta. Depois da mediatização é óbvio que o conjunto de informação e digamos de redundância, vamos pôr aqui entre aspas “de lixo informacional” é tão grande que qualquer juiz, qualquer jurado vai ter dificuldade em analisar com objectividade o caso. Portanto isto é um caso condenado à partida do ponto de vista da informação pura. Quer se dizer são todos, porque informação pura não existe, mas aquela ideia da imparcialidade da justiça e da cegueira da justiça é impossível desde logo por critérios fundamental de um filósofo que faleceu há pouco, e que dizia que a justiça só podia ser justa algum dia se fosse feita com um véu de ignorância. Ou seja, se eu pudesse fazer uma justiça a qual eu não teria que me submeter, eu aí teria uma justiça justa da mas assim só consigo fazer justiça enviesada, e aqui será muito enviesada de facto e esses é um dos partidores para além de outros como por exemplo as influências políticas, as influências religiosas como o Vaticano que não se percebeu como é que entra e sai mais ou menos discretamente do caso. Faz com que eu não tenha grande crença em relação ao facto de um dia haver um julgamento sobre o caso. Mais isso como já disse muitas vezes teria consequências políticas sérias e muito chatas.
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