Maddie é um caso de segurança nacional

(Actualizado)
Os ingleses não mostraram aos polícias portugueses as imagens, no dia de desaparecimento de Maddie, dos satélites que apontam ao Algarve. Disseram que, por coincidência, nessa altura os satélites estavam todos virados para Marrocos. E a polícia inglesa declarou agora que na investigação McCann estarão envolvidos os serviços secretos.

Em Maio de 2007, alguns dias depois de Maddie ter desaparecido, um alto responsável do Departamento de Investigação Criminal (DIC) da Policia Judiciária (PJ) pediu aos colegas ingleses enviados à Praia da Luz para ter acesso às imagens dos satélites que vigiam a zona algarvia.
Se o pedido em si podia ser considerado como normal pois, no passado, as imagens satélite já serviram para ajudar as autoridades a solucionar um ou outro caso, a resposta surpreendeu. Segundo os “especialistas” enviados pelo governo britânico a Portugal, à hora a que Madeleine McCann foi levada do apartamento 5A do Océan Club, todos os satélites estavam virados para as costas marroquinas.
Apesar da explicação dada aos inspectores da Policia Judiciária, um dos polícias britânicos enviados ao Algarve acabaria por confirmar, em conversa informal, que “se existem imagens satélite da saída de Madeleine McCann do apartamento, elas são consideradas segredo de estado,” e logo impossíveis a fornecer às autoridades portuguesas.
Uma “coincidência” infeliz que acabaria por surpreender os homens da PJ quando, meses mais tarde, viram os mesmos “especialistas” defender a tese do rapto de Madeleine para Marrocos, apoiada nomeadamente pelas declarações fantasistas de uma agência de detectives espanhola, a Método 3, que, em declarações públicas, até dizia saber quem tinha levado a menina, porquê e como, prometendo mesmo o seu regresso a casa antes do Natal.

Um caso de Estado

Mas o caso dos satélites virados para o lado “errado” não é único. Em Inglaterra, a polícia do Leicestershire, em resposta a um pedido de um jornalista britânico, ao abrigo de um decreto que regula o livre acesso à informação, recusou-se a explicar se o recurso a escutas telefónicas e intercepção de correio electrónico no âmbito das investigações ao caso Madeleine McCann estaria coberto, ou não, por um mandado.
Parte dos agentes de polícia britânicos enviados à Praia da Luz nas 48 horas que se seguiram ao alerta criado com o desaparecimento de Maddie, vinham da polícia municipal do Leicestershire já que os seus pais, Kate e Gerry McCann, residem na sua área de jurisdição, nomeadamente em Rothley.
Segundo o jornalista Jon Clements, a polícia, depois de ter protelado a sua resposta durante vários meses alegando necessitar de consultar outras “Agências”, respondeu que não tinha qualquer obrigação de explicar em que termos foram utilizados quaisquer meios de vigilância no caso Maddie, por razões de “segurança nacional”.
A polícia do Leicestershire, considerada a 5ª melhor polícia municipal de Inglaterra, explicou ainda ao jornalista que estava igualmente dispensada de lhe responder, porque a explicação poderia estar relacionada com outros “organismos de segurança”, o que, de acordo com o decreto que regula o livre acesso à informação, significa os diversos organismos dos serviços secretos, tipo MI5, MI6, GCHG, SOCA ou as Forças Especiais.

Nem Sócrates os assustou

O desaparecimento de Madeleine McCann mereceu, desde o primeiro momento, uma atenção muito especial por parte das autoridades britânicas: um gabinete de crise especialmente dedicado ao apoio ao casal McCann foi criado no seio do Foreign Office ainda antes da chegada ao local dos primeiros inspectores da Policia Judiciária.
A importância dada pelo governo britânico ao casal McCann ultrapassou todas as expectativas e mesmo os elementos dos serviços secretos de Sua Majestade que se deslocaram a Portugal, acabaram por se mostrar surpreendidos com a facilidade com que Kate e Gerry McCann entravam em contacto com Tony Blair ou Gordon Brown.
O empenho do governo britânico foi tal que nem a intervenção pública do primeiro-ministro português, José Sócrates, pedindo aos políticos para não interferirem nas investigações ao desaparecimento de Maddie, conseguiu convencer os ingleses de deixarem a PJ trabalhar em paz.
José Sócrates, em declarações ao quotidiano espanhol EL PAÍS, em Setembro de 2007, logo após Kate e Gerry McCann terem sido constituídos arguidos, disse que, enquanto primeiro-ministro português, mantinha “total confiança no trabalho realizado pela polícia portuguesa” no caso Madeleine McCann.
Reconhecendo que o caso Maddie era “um caso muito difícil”, José Sócrates descreveu a desaparição de Madeleine McCann como um caso onde “a polícia deu o seu melhor para descobrir o que aconteceu à menina”.
O primeiro-ministro dizia ainda na altura que era uma obrigação para todos os políticos (ingleses ou portugueses) de não interferirem nas investigações em curso e de não “alimentarem o folhetim”.

Duarte Levy

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